quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os médicos

Minha médica me disse que os exames femininos básicos eu já fazia há anos, que são as ultras e o preventivo, e que estava tudo bem comigo. A gente deveria começar os testes pelo meu marido, porque são menos dolorosos. E, se tudo estivesse bem com ele, verificaríamos a minha parte.

Procurei um médico no livrinho do plano de saúde mesmo, não dei muita importância para aquilo. Afinal, o cara só pediria os exames e dando tudo certo, nunca mais o veríamos. Foi pedido um espermograma, o teste básico para todo homem. Foi quando descobrimos o nosso 1º problema: a produção dos espermatozóides não era 100%.

Assim, voltamos para a segunda consulta. E eu, crente que nunca mais veria aquele médico... Ele indicou que fosse feita uma biópsia dos 2 testículos para que fosse analisada a extensão do problema. Apesar do exame ser MUITO doloroso, o resultado serviu para lavar as nossas almas. “Presença de espermatozóides.” Com essa frase passamos da 1ª fase da nossa caminhada!

O urologista então, nos encaminhou para um segundo médico, um especialista em reprodução. Porque, da forma normal, dificilmente conseguiríamos engravidar, seria necessário fazer uma inseminação artificial. Este especialista era super renomado na área, famoso, então fomos à primeira consulta super confiantes.

O médico nos pareceu muito inteligente, mas também muito frio. Um médico que trata de uma das fases mais sensíveis da vida de uma pessoa não pode ser frio. Ele leu o laudo da biópsia e, apesar do urologista ter nos dito que era possível engravidar e a especialista do laboratório onde foi feita a biópsia confirmar isto, ele nos garantiu que não era possível e para completar a consulta nos empurrou uma papelada sobre doadores de esperma. Doutor, eu não sei se o senhor entendeu, mas nós acabamos de passar por isso! Nós acabamos de questionar a nossa capacidade de gerar nossos próprios filhos, vamos precisar voltar a este assunto?

Como disse anteriormente, o médico é super conceituado. Então, quem éramos nós para questionar o que ele tão rapidamente diagnosticou. Pronto, nosso mundo desabou pela 2ª vez. Usar um doador ia de encontro com tudo que havíamos planejado pra nossa vida. Um bebezinho de olhão, cílios enormes, “pé de mão” e completamente dramático. Como reagiríamos se o bebe não se parecesse com nenhum de nós 2? Como o meu marido viveria, sabendo que aquele bebe não é, na verdade, seu filho? E eu, como eu viveria se abrisse mão de ser mãe, de engravidar, para adotar uma criança? Estas eram as opções que tínhamos. Estes médicos parecem não ter noção da força que eles exercem sobre a vida das pessoas que chegam até eles em busca de conselhos. Ignoram que podem mudar a vida das pessoas. Sentam atrás daquelas mesas, cheios de pompa e certificados de várias partes do mundo, mas apesar de serem tecnicamente muito bons, não estão preparados de forma alguma para tratar com pessoas.

O que você faz quando um médico indica uma cirurgia para tratar o seu caso? Procura a opinião de pelo menos mais 3 médicos, né? Para esta especialidade, infelizmente, não existem mais 3 médicos disponíveis no Rio de Janeiro. Então, fomos procurar outro especialista.

Este segundo médico é o completo oposto do primeiro. Caloroso, brincalhão, faz a consulta parecer um bate papo. É disso que a pessoa precisa quando está passando por um momento como este. Ninguém chega até ali sem ter recebido péssimas notícias antes. Quando ele leu o laudo da biópsia a primeira coisa que ele disse foi “Se vocês tivessem me procurado para fazer esta biópsia, eu já teria congelado os espermatozóides.” Oi?! Como é?! Você já teria congelado o que?! “É, está escrito aqui ‘presença de poucos espermatozóides inativos’ eu só preciso de um, gente.” Pronto! Esse é o nosso médico!!!

Escrito em Outubro de 2009, antes de eu engravidar.

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